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REVIEW: Kanye West-Donda (2021)

 


Bom Dia Pessoal, Eu sou o Ricardo, e esse é o novo álbum do Kanye West, Donda.

Gênio. Visionário. Louco. Esse e vários outros termos já foram usados para descrever o rapper americano Kanye West, que desde o começo da sua carreira foi uma figura extremamente controversa, mas ao mesmo tempo muito respeitada. Álbuns como The College Dropout, Late Registration e My Beautiful Dark Twisted Fantasy são considerados como clássicos absolutos do Hip Hop do século 21, 808s and Heartbreak influenciou muito o neo-soul de artistas como The Weeknd e Mac Miller (no final de sua carreira), além de influenciar o Emo Rap. Yeezus colocou o Hip Hop Industrial de grupos como Death Grips (que inspirou o álbum em partes) no léxico popular, além de outros álbuns excelentes como Graduation, The Life of Pablo e Kids See Ghosts, feito junto com o Kid Cudi.


Claro, nem tudo são flores. A carreira do rapper é recheada de polêmicas, como quando disse, em rede nacional, que o então presidente George W Bush não se importava com as pessoas negras, logo após o furacão Katrina, quando interrompeu o discurso de Taylor Swift no VMA de 2009, às várias brigas com vários artistas, como 50 Cent, J Cole, Taylor Swift (da qual ele até hoje as vezes joga um pouquinho de gasolina no fogo) e (nesse exato momento) Drake, suas atitudes bizarras que se seguiram depois de se tornar um cristão renascido, seu apoio ao presidente Donald J Trump e sua candidatura a presidente dos Estados Unidos em 2020. Se eu falasse de todas as polêmicas que Kanye já se envolveu, esse parágrafo teria 5 páginas.


Kanye também é uma pessoa muito conturbada, ele é bipolar, e escolheu não tratar isso. Ele nunca superou a morte da mãe, Donda, ocorrida em 2007. Kanye está constantemente a beira de um ataque de nervos,  como aconteceu em 808s & Heartbreak, inspirado pela morte de sua mãe e pelo seu divorcio, My Beautiful Dark Twisted Fantasy foi gravado em auto-exílio no Havaí, depois da treta com a Taylor Swift, The Life of Pablo, Ye e Kids See Ghosts foram todos feitos enquanto ele estava a beira de um ataque de nervos, e esse novo álbum também foi feito depois de um colapso mental, causado pelo seu divorcio conturbado com a Kim Kardashian, além de ser uma tentativa de finalmente superar a morte de sua mãe, que dá nome ao álbum. Isso, como você pode imaginar, torna Donda um álbum extremamente pessoal e emocional, com muitas músicas tendo temas como luto, fé, reconciliação, além de algumas músicas e passagens sobre racismo e o sistema prisional americano, é um álbum bem pesado e sombrio, principalmente quando comparado ao seu primeiro álbum depois de se tornar cristão renascido (o medíocre, se não ruim, Jesus is King).


A primeira faixa, “Donda Chant”, mostra isso de maneira bem poderosa, sendo 52 segundos do nome “Donda” sendo repetido, sem música, porém claramente de forma ritmada em formas diferentes, muitos fãs especulam que isso represente os últimos batimentos do coração da mãe da Kanye, de fato, uma maneira bem pesada, embora simples, de se começar um álbum. Depois desses 52 segundos, o álbum começa.


Musicalmente, Donda é um álbum muito bonito, porém bem sombrio, com algumas partes sendo um pouco reminiscentes de vários álbuns, tendo os beats minimalistas do Yeezus, a temática cristã do Jesus is King, a temática pessoal pessoal pesada do Ye, as músicas cativantes do The Life of Pablo, só pra dar um exemplo do quanto esse álbum é variado,  várias músicas tem instrumentais belíssimos, como o magnífico instrumental (e mais magnífica finalização) de “Come to Life”, a repetitiva, porém bela “Jesus Lord”, com um instrumental repetitivo, com um toque eletrônico, que ajuda em muito os versos que estão sendo cantados (o que eu vou falar depois), com certeza uma musica que esta pelo menos no top 15 das melhores músicas de sua carreira, também há músicas cativantes como “Heaven and Hell” e “Believe What i Said”, outras músicas boas, como “Hurricane”, “Off the Grid”, que é um pouco repetitiva, mas mesmo assim é boa, “Moon” com o Kid Cudi, a primeira música de verdade do álbum “Jail”, com um instrumental bem rock e um ótimo verso do Jay-Z, dá pra se dizer que as músicas boas desse álbum são genuinamente muito boas (opinião mais profunda da história).


Nem tudo é as mil maravilhas entretanto. Donda é um álbum GI-GAN-TES-CO, tendo nada mais nada menos que 1 hora, 48 minutos e 48 segundos de duração, além de 27 faixas. Tendo tudo isso de duração, e tudo isso de faixas, há de se esperar que este álbum tenha bastante filler, e sim, infelizmente Donda é um álbum cheio de filler. Pelo menos 1⁄3 das músicas não precisava estar nesse álbum, e ele podia ser pelo menos 30 minutos menor, os exemplos que mais me vem em mente são “Junya”, “OK OK”, “Remote Control”, “Lord I Need You”, entre várias outras. As piores com toda certeza são “Tell the Vision”, que pasmem, nem ao menos tem o Kanye na música. É só o finado Pop Smoke (que deus o tenha) cantando sobre um beat bem mal acabado, com um pianinho bem mixuruca como melodia, tipo, porque essa música está aqui??, tudo bem, ouvi dizer que essa é uma versão alternativa de uma música do último álbum póstumo do Pop Smoke, em que o Kanye e o Pusha T estavam presentes, mas mesmo assim, porque essa versão que não tem o Kanye está no álbum dele, isso não faz sentido pra mim. E claro, como não falar das últimas quatro faixas, elas são literalmente 4 músicas do álbum repetidas, “Jail pt 2”, “OK OK pt 2”, “Junya pt 2” e “Jesus Lord pt 2”, todas essas, com algumas pequenas (e muitas vezes ruins) diferenças, são literalmente as mesmas músicas que as originais, porém pioradas, “OK OK pt 2” muda o verso do Lil Yacht para um verso da cantora Jamaicana Shenseea, o que não é ruim na minha opinião, mas também não soa muito bom, “Junya pt 2”, aumenta o verso do Playboi Carti e tem um péssimo verso do Ty Dolla $ign , sério, é ridículo, ah, e “Jail pt 2”, retira o ótimo verso do Jay-Z, e troca por um verso do DaBaby…


desculpa

Sério.


...Aliás, o Marilyn Manson também está aqui. que match dos deuses esse hein.


Tipo, tá, beleza, a homofobia infelizmente ainda é algo relativamente normal no hip hop, e apesar de não ser um bom artista, o Da Baby é um bom rapper, com um ótimo flow, O QUE DIABOS O MARILYN MANSON ESTÁ FAZENDO AQUI, depois de todas as acusações de abuso sexual, de assédio moral/sexual, o cara ainda consegue ter um feat em um álbum de um dos maiores artistas dos ultimos tempos??, como isso é possível, e mesmo se você descartar isso com alguma desculpa esfarrapada, O MARILYN MANSON NÃO É SATANISTA????? O QUE ELE ESTÁ FAZENDO UM ÁLBUM DE HIP HOP CRISTÃO??? Ah, também tem o Chris Brown em “New Again”, Chris Brown que nem precisa de introdução, e o Lil Baby em “Hurricane”, o Lil Baby não fez nada de errado que eu saiba, ele só não é muito bom.


Alias, você sabia que ele sampleou o meme do Globgloglabgalab em “Remote Control”? Tipo, sem brincadeira??? Eu nem vou comentar isso, porque é algo muito pequeno pra eu perder tempo ficando bravo com isso, vamos progredir.





As letras são, como eu já falei acima, bem pessoais e sombrias, e também geralmente bem mais maduras que as do álbum anterior, mesmos nos piores momentos não há mais momentos vergonha alheia como “Closed on Sunday”, aqui nós temos letras como a minha favorita “Jesus Lord”, o verso do Kanye, em sua metade, fala sobre como ele sente falta de sua mãe (“Mãe, você trazia vida para a festa”), sobre a depressão que ele sentia (e ainda sente) depois da morte de sua mãe, além de partes sobre a criminalidade e brutalidade policial que o seguiu a sua vida inteiro, da sua infância em Chicago, até os dias atuais, com os vários protestos contra a violência policial que aconteceram nos Estados Unidos nos últimos sei lá quantos anos. O último verso, falado por Larry Hoover Jr (filho do ex-gangster Larry Hoover sr.), em que ele agradece o apoio de Kanye que pede pela sua soltura. Kanye pediu clemência para Hoover sr em sua visita a Donald Trump no salão oval, em 2018, ou pelo menos para que o tirasse da cela solitária (onde ele está há 25 anos), a parte da qual ele fala sobre as fases da qual ele foi prometido que seu pai estaria solto (do oitavo ano, ao colégio, a faculdade), das quais nenhumas se concretizaram, e sobre como Hoover sr “nunca abraçou, beijou, ou tocou nenhum de seus netos”, é genuinamente de partir o coração. Também há excelentes versos em “Hurricane”, “Come to Life”, “Jail”, “Lord I Need You”, entre algumas outras, quando as letras nesse álbum funcionam, elas conseguem ser genuinamente profundas e emocionais, e mostram o vazio que Kanye sente, além de demonstrar a sua fé cristã de maneira bem melhor que em Jesus is King (“Fechado no Domingo/Você é meu Chick-Fil-A”, até hoje intankavel).


Infelizmente, quando as letras não funcionam, elas tendem a ter vários problemas bem chatinhos, como por exemplo, “Off the Grid” e “God Breathed”, ambas tem hooks extremamente repetitivos, que são difíceis de digerir, a mesma coisa pode ser dita de “Junya” e de outras várias músicas pra falar a verdade, letras repetitivas demais são uma das minhas maiores implicâncias em reviews, e Donda está cheio delas. Outro problema está em alguns versos e símiles, a mais ridícula sendo em “God Breathed” (“Deus, o pai, como o Maury”, Maury é tipo um Ratinho americano, dá pra perceber o quão ridículo isso é né), o verso do Jay Electronica em “Jesus Lord”, que entra no vale da estranheza por ao mesmo se encaixar bem na música e não ter nada a ver com nada, sendo só um meio dele falar sobre as coisas estranhas que ele acredita, além disso também tem o verso do Ty Dolla $ign em “Junya pt 2”, que é uma das coisas mais vergonha alheia que eu já vi nos últimos tempos, pessoalmente eu nem tenho palavras, só vou mostrar aqui abaixo, claro sem nem comentar o verso do DaBaby em “Jail pt 2”, que é só o rapper tentando fazer o ouvinte se sentir culpado por ele ter sido exposto (de forma justificada) pela sua homofobia, é um versinho bem vergonhoso, diga-se de passagem.


Tem uma coisa bem engraçada que eu percebi nesse álbum, então, o Kanye não fala mais palavrão, quer dizer, ele fala as vezes, mas ele não faz mais musicas com palavrão, até aí tudo bem, o álbum é dele e ele escreve as músicas do jeito que ele quiser, só que os outros rappers que aparecem no álbum parece que não perceberam isso, porque eles continuam xingando, e tipo que, você esperaria que o Kanye, sendo um bom produtor, simplesmente faria um segundo corte aonde ele fala para os rappers não falarem palavrão, MAS NÃO, ELE SÓ CENSURA OS PALAVRÕES, SEM BRINCADEIRA, se você ver as letras de algumas músicas no genius, você vai ver um monte de **** ou *****, e na música essas partes estão cortadas, não aparece o áudio onde os rappers falam palavrão, e isso é bem perceptível, o que afeta em muito (negativamente) algumas músicas, é algo que talvez nem todo mundo tenha percebido, mas eu percebi, e eu achei bem chato.


Por falar em rappers e coisas relacionadas a voz, essa é outra coisa que eu achei bem inconsistente, claro, a voz do rapper não é tão importante e sim o jeito que o rap é feito, mas mesmo assim dá pra perceber que a qualidade dos rappers e da voz deles é bem inconsistente. Por um lado, nós temos bons feats, de bons rappers e cantores como Jay-Z, Jay Electronica, The Weeknd, além do próprio Kanye West (com suas melhores performances desde o Kids See Ghosts), por outro lado, temos péssimos feats de rappers como, Playboi Carti, Lil Baby, Travis Scott, Marilyn Manson, Chris Brown, entre outros que tem péssimas vozes, não me entenda mal, o Carti e o Travis são ótimos artistas, mas as vozes deles são tão cheias de autotune que muitas vezes elas nem parecem sair de uma pessoa, e sim de um robô de brinquedo dos anos 80. Além disso, para um álbum do Kanye West, com um conteúdo bem relevante ao Kanye West, eu achei que esse álbum tem muito pouco Kanye, e muito das outras pessoas, em algumas músicas o Kanye só aparece no final, em algumas ele só aparece no refrão, e em outras ele nem aparece, para um álbum com um conteúdo tão pessoal, a presença tão prevalente de outras pessoas (sendo 60% Kanye, 40% o resto), me incomoda um pouco, eu não curti isso de quase não ter o Kanye.


A parte que eu mais gostei, e que pra mim torna esse álbum algo a mais é a produção, Kanye sempre foi um excelente produtor, e esse álbum é uma das provas disso, como eu falei acima, Donda tem uma grande mistura de estilos de outros álbuns, e isso é uma das maiores forças daqui. como em Yeezus, os beats são minimalistas, com uma pegada industrial, e muitas vezes sendo bem repetitivos, mas mesmo assim, ainda há melodias leves e cativantes como em The Life of Pablo, assim como em Ye, há partes dispersas e sombrias, mas como em Jesus is King há elementos gospel que são bem melhor explorados aqui do que no álbum que eu dei o exemplo, é um álbum direto ao ponto, melancólico e minimalista, mas ao mesmo tempo épico, eclético e belo. Essa mistura é o que torna esse álbum único, e embora algumas coisas não sejam tão boas, como a censura de palavrão que eu falei acima, a produção desse álbum ainda é a melhor coisa que existe sobre ele.


Donda é um bom álbum que honestamente valeu muito os quase 2 anos de hype em volta desse álbum, claro ele não é perfeito, tendo alguns erros irritantes, algumas performances que deixam a desejar, ser desnecessariamente longo e tendo muito filler, porém mesmo assim, as letras pessoais, as boas performances, os bons versos e a excelente produção fazem tudo isso valer a pena, eu recomendo este álbum para quem já é fã do Kanye West, e para quem ouvia ele mas se pergunta como é a música dele sem palavrões, a minha nota é…


NOTA:7.1




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Alias, sim, esse álbum é melhor que o CLB.


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